Ser perfeccionista por medo de julgamento é viver com uma constante sensação de que o teu valor como pessoa está condicionado ao teu desempenho. Não é só querer fazer as coisas bem feitas. É sentir que, se falhares, vais decepcionar alguém, vais ser criticado, rejeitado ou visto como insuficiente. Por isso, tentas sempre entregar mais do que o necessário, revisar tudo mil vezes, prever todos os erros antes que eles aconteçam. A intenção parece boa — “quero dar o meu melhor” — mas por trás disso há uma urgência sufocante: a de proteger-te do que os outros podem pensar.
A mente de quem vive assim está sempre em alerta. Tu começas uma tarefa já a imaginar todos os cenários em que podes ser julgado. Pensas em como o outro pode interpretar, o que pode achar, como podes ser mal compreendido. Cada palavra, cada detalhe, cada decisão precisa estar perfeita, precisa transmitir competência, inteligência, controle. Porque se não estiver… vem aquele pensamento automático: “Vão achar que sou burro. Que não sei o que estou a fazer. Que não sirvo.”
E essa pressão interna não para. Mesmo quando acabas algo, em vez de sentires alívio, sentes dúvida. “Será que ficou mesmo bom? Será que devia rever de novo?” E se alguém elogia, até desconfias. Mas se critica — mesmo que de forma leve — aquilo pesa como se fosse uma confirmação de todos os teus medos. Vives então num ciclo: exigência → medo → bloqueio → culpa. Às vezes nem consegues começar algo porque, se não for para sair perfeito, parece que nem vale a pena.
No meio disso tudo, há um silêncio enorme: o silêncio de quem não sente que pode ser vulnerável. Tu não mostras quando estás cansado, ou quando tens dúvida, ou quando algo falha. Guardas isso para ti, com medo de pareceres fraco. Crias uma imagem de força e competência, mas às vezes, por dentro, estás a gritar por descanso, por aceitação, por um momento em que possas simplesmente ser — sem ter de provar nada.
Ser perfeccionista assim não é frescura. É um mecanismo de defesa. Tu aprendeste, em algum ponto da tua vida, que errar era perigoso. Que falhar te tornava menos. E agora vives tentando garantir que ninguém veja essas partes “menos” de ti.
É como se o teu valor estivesse ligado à performance.
Mas tu não és um projeto. És uma pessoa.