Dizem que entendem… mas não entendem. A dor da perda é única, singular. Não existe comparação, porque ela tem o peso exato do amor que sentíamos por quem se foi. Uma vez ouvi que “a dor exige ser sentida”, e foi exatamente isso que experimentei. Não havia como escapar, racionalizar ou ignorar. Só sentir.
Alguém me disse certa vez que escrever ajuda. E eu escrevi. No começo senti um vazio maior ainda, como se estivesse cavando para dentro da própria dor. Mas ajudou. Um pouco. Talvez seja só isso que possamos fazer: encontrar formas pequenas de continuar, mesmo que pareçam inúteis.
A verdade é que todos gostariam de fazer mais quando alguém sofre uma perda — dar uma palavra certa, oferecer um abraço que faça tudo parar de doer, dizer algo que traga alívio. Mas a realidade é dura, crua e vazia. Não há palavras certas. Não há consolo possível quando nos damos conta de que aquela pessoa — aquela que era tudo — se foi. Que não vamos mais vê-la, ouvir sua voz, tocar sua pele, sentir seu cheiro, rir das suas piadas ou partilhar silêncios. Nunca mais.
No começo a mente resiste. Questiona. Será mesmo? É esse o fim? Foi assim que tudo acabou? E então, aos poucos, a realidade vai se impondo. A morte não negocia. É definitiva. E quando aceitamos isso, o que vem a seguir é a dor em sua forma mais pura. Uma dor que toma conta do peito, que nos faz reviver tudo o que não dissemos, tudo o que deixamos de fazer. Vem a tristeza, o arrependimento, a saudade… e principalmente, a negação.
“Eu não aceito que tenha acabado.” — Dizemos isso em cada lágrima.
“Eu não aceito que ele se foi.” — Repetimos a cada lembrança.
“Eu não aceito que não volta.” — Sussurramos a cada silêncio.
Não há como curar isso. O tempo não cura. Ele só muda a forma como a dor se manifesta. A saudade não desaparece, a ausência nunca se preenche. A única coisa que muda é que um dia, sem perceber, começamos a conviver com essa dor. Ela passa a fazer parte de quem somos. Não porque superamos, mas porque nos adaptamos.
“A dor diminui quando aceitamos que a pessoa se foi.”
Chorar, gritar, se revoltar — tudo isso faz parte. Ninguém está pronto para perder alguém que ama. A gente apenas tenta seguir, no nosso tempo, do nosso jeito. E quando esse tempo chegar, quando tudo estiver um pouco mais calmo, talvez a dor se transforme em memória. Talvez.
Na época, muitos achavam que eu estava a sofrer. E estavam certos. Mas o que eu sentia ia além do que qualquer palavra pode descrever. Não era apenas sofrimento. Era como se o mundo tivesse desaparecido, como se o chão tivesse se aberto e tudo o que restou fosse um buraco sem fim, uma negação que não queria me deixar sentir a perda — porque sentir significava aceitar, e aceitar era insuportável.
Para mim, não foi “de um dia para o outro”. Todos os dias que vieram antes já estavam cheios de cinza, de lutas silenciosas. No fim, eu não perdi uma guerra. Eu perdi o mundo. Porque ele — aquele que se foi — era tudo.
Ele era quem eu admirava, mesmo sem dizer. Era a pessoa que eu queria ser, mesmo negando. E quando ele partiu, tudo perdeu o sentido. Eu chorei desde o último dia. Choro até hoje. Perdi não só ele, mas as possibilidades de tudo o que poderíamos ter vivido.
Eu poderia ter feito mais.
Essa frase me assombra.
Eu poderia ter sido melhor. Poderia ter estado mais presente. Poderia ter dito mais vezes o quanto o amava. Poderia, poderia, poderia…
Sim, mas não fui, não fiz, não disse…
E agora carrego esse arrependimento como parte da minha rotina.
Uma parte de mim morreu com ele.
“Não existe sentimento que explique essa dor.”
Pior ainda é imaginar como foi o fim. Eu não estava lá. Fico preso a pensamentos repetitivos. Será que ele pensou em mim? Será que sofreu muito? Será que se despediu? Eu estava sorrindo enquanto ele morria? O que eu estava fazendo? Como ele se sentiu? O que ele diria se tivesse mais um momento comigo?
O resto do mundo não parou, mas o meu mundo, esse sim, parou, do mesmo jeito que o seu coração.
Não sei o que fazer com isso. Não sei como seguir.
“É nesse momento em que achamos que a vida não faz sentido. Nascer, crescer, morrer… e perder as pessoas que amamos.”
Hoje, ainda tento entender como viver com essa ausência.
“Eu só consegui me acalmar quando enganei a mim mesma dizendo que ele foi fazer um trabalho num lugar muito distante. Um dia talvez ele volte. Até hoje, para mim, ele ainda está vivo. Foi o jeito que encontrei para suportar.”
Talvez eu também precise inventar uma história para poder continuar.
Porque a dor ainda está aqui.
E talvez nunca vá embora.
Mas, como a vida, ela muda. Se transforma.
E talvez um dia… eu também mude com ela.