Era alguém que gostava de conversar. Não sobre banalidades — mas sobre o que importava. Sentimentos, ideias, medos, sonhos. Tudo aquilo que transborda quando a alma está cheia demais para guardar só para si. Gostava de mergulhar fundo — nas ideias, nas dores, nos porquês. Palavras eram a forma de tocar o mundo com aquilo que o mundo raramente via: o que vivia dentro dele.
Aos poucos, deixou de partilhar. Primeiro as pequenas vitórias, depois os dias difíceis, depois os pensamentos mais íntimos.
Todos os dias, carregava uma tristeza profunda. Mas sorria. Fingir tornou-se um hábito. E ninguém notava que por trás do sorriso havia um desespero silencioso.
Dia após dia, se apagava em silêncio.
Guardava o que queria mostrar, pensamentos que queria dizer, alegrias que queria dividir… mas não dividia. Não porque não quisesse — mas porque parecia que já não fazia diferença. Quando ninguém repara, até o riso parece inútil. E apagava. Apagava tudo, como se dissesse: “Nada disto importa. Nem eu.”
Começou a engolir a própria dor com a mesma naturalidade com que respirava. Todos os dias, uma tristeza mansa o acompanhava. Todos os dias, sorria por fora e desmoronava por dentro.
E ninguém via.
Havia momentos em que a vontade de falar gritava. Mas falar pra quê? Pra quem?
Então guardava. Guardava como quem esconde um vidro rachado antes que alguém veja que ele já não aguenta mais pressão.
Estava cansado.
Cansado de sentir tudo tão fundo e não encontrar sentido em nada.
Cansado de se levantar com um vazio no peito que não se preenche com comida, sono ou distração.
Cansado de existir em modo automático.
Cansado de lutar contra o desejo silencioso de desaparecer.
No fundo, só queria um lugar onde pudesse pousar o peito.
Só queria poder dizer: “Hoje estou mal” — e ser acolhido, não julgado.
Queria parar de fingir que está tudo bem. Porque não está. E não tem estado há muito tempo e nesse mesmo dia… chorou.
Chorou tudo o que tinha acumulado nas entrelinhas da vida.
Chorou como quem implora por um alívio que não vem.
Chorou sozinho. E sentiu vergonha de precisar de colo.
Não sabia mais onde encaixar a sua dor.
Não sabia por onde começar.
Não sabia se estava a viver… ou apenas a resistir.
E ali, no silêncio do quarto, escreveu mais uma carta.
Daquelas que ninguém lê.
Daquelas que nascem da urgência de existir, mesmo que em palavras.
Daquelas que talvez salvem — ou talvez apenas adiem o fim.
Perguntou-se se os sentimentos dele eram barulhos inconvenientes.
Perguntou-se se alguém algum dia o ouviria sem pressa, sem peso, sem medo.
Perguntou-se o que era felicidade… e não soube responder.
A verdade é que estava cheio.
Mas não de vida.
Cheio de tristeza, de ausência, de perguntas sem resposta.
Naquele dia, não conseguiu conter.
A tristeza escapou.
E ele… transbordou.