O gosto bom da felicidade passou.
E eu nem percebi exatamente quando. Talvez tenha sido naquela manhã em que levantei sem vontade, mas fui mesmo assim. Ou talvez naquela mensagem que esperei e não chegou, e depois em tantas outras que vieram, mas já não diziam nada. Há dias em que tudo parece igual, e outros em que tudo pesa mais. E a verdade é que a felicidade, aquela genuína, deixou de ter sabor.
Já teve gosto de café recém-passado e de beijo demorado. De abraço que encaixa e de riso que explode no meio de uma conversa boba. Teve gosto de liberdade nas caminhadas sem rumo e de euforia ao descobrir uma música nova que parecia ter sido escrita só para mim. Já foi intensa, cheia de cor e presença.
Mas agora… agora tudo tem um certo gosto de vazio.
Talvez seja só o cansaço da rotina, essa sequência de dias que se repetem sem avisar. A pressão de ser sempre forte, sempre produtivo, sempre bem. A gente se acostuma a sobreviver e esquece como era viver de verdade.
Vejo os outros sorrindo nas redes sociais, nos cafés, nas reuniões. E penso: será que ainda sentem aquele gosto bom? Ou será que, como eu, apenas mascaram a ausência dele com filtros e frases motivacionais?
O gosto bom da felicidade passou. Mas será que foi embora mesmo, ou fui eu que perdi o paladar? Será que deixei de estar presente o suficiente para senti-lo?
Às vezes acho que ele ainda está por perto, escondido em pequenas coisas que ando a ignorar — no cheiro da chuva, no carinho na cabeça, no silêncio das noites em que me permito apenas existir. Talvez não tenha ido embora… só tenha mudado de forma.
A felicidade talvez não more mais nos grandes momentos, mas sim na capacidade de notar os pequenos. Talvez o segredo seja desaprender a esperar por ela como quem espera um evento e aprender a reconhecê-la nas entrelinhas.
Mas confesso: sinto falta daquele gosto bom. Sinto mesmo.
E enquanto não volta por completo, sigo tentando lembrar o sabor. Procurando em mim algo que reacenda. Talvez um recomeço, um respiro, um gesto simples.
Porque, no fundo, acho que todos nós só queremos isso:
Voltar a sentir. Voltar a saborear. Voltar a viver.
O gosto bom da felicidade passou.
Mas talvez, só talvez… ele volte, um dia.