Sou a vergonha que o espelho recusa, a sombra que rasteja onde o amor reluzia.
Não precisas fingir ternura alguma, sei que fui a tua melancolia.
Fui a queda sem aviso, o erro em carne e osso, o abraço que apertava demais, o silêncio que pedia socorro.
Não me resta voz pra pedir perdão, meu peito é um campo minado de arrependimentos.
Não fui feito para amar — ou talvez, só soube ferir em meus sentimentos.
Tudo mudou num sopro, num susto, o doce azedou na língua do tempo.
O que fluía, hoje tropeça em cada “e se”, em cada lamento.
E nós?
Somos agora vestígios, rastros no chão de um dia bom.
Dois corações apertados demais pra lembrar de como era som.
Quem sou eu?
O que restou de nós senão a dor? A ânsia, o nó, a culpa, o fim.