A Peça Invisível

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Sabes, por vezes invade-me aquela estranha convicção de que algo essencial se perdeu, uma peça invisível que outrora se encaixava perfeitamente, deixando agora um contorno irregular no meu ser.

É mais do que uma simples ausência; é a persistente impressão de incompletude, como se uma nota fundamental de uma melodia se tivesse silenciado para sempre, deixando apenas ecos dissonantes.

Essa sensação peculiar acompanha-me como uma sombra teimosa, estendendo-se pelos dias ensolarados e pelas noites estreladas. É um vazio que reside não em um lugar específico, mas permeia a própria estrutura dos meus pensamentos e emoções. Uma espécie de eco silencioso, lembrando-me constantemente de uma falta que a razão não consegue decifrar.

E então, invariavelmente, surge aquele aperto familiar no peito. Sob o manto escuro da noite, quando o mundo exterior silencia e resta apenas a ressonância dos meus próprios pensamentos, meus olhos fitam o vazio à minha frente. É nesse instante que a questão emerge, lancinante e repetitiva: o que falta? O que falta nesta tapeçaria da minha existência?

Por que essa persistente sensação de vazio, como um oco profundo na minha alma? Qual será a natureza exata dessa peça perdida, desse elo quebrado na corrente dos meus sentimentos?

Eu sinto essa falta, uma presença fantasmagórica que paira sobre minhas ações e reflexões. É uma intuição visceral, um conhecimento silencioso de que algo está fundamentalmente em falta. No entanto, as palavras fogem, as explicações se esvaem como areia entre os dedos. Como descrever o indescritível? Como nomear o que sequer consigo identificar? Resta apenas a sensação pura, teimosa e inexplicável, de que a minha engrenagem interior não gira em sua totalidade.

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